segunda-feira, 14 de março de 2011

Ciúmes e Posse - Luciana Sadi

Encontrei esse texto no Blog da psicanalista Luciana Sadi, gostei muito e resolvi partilhar as idéias... tenho lido muito a respeito de ciúme... tentando entender de que forma as pessoas compõe narcisicamente a posse em relação as outras. 

 

Ciúmes e posse

Internauta: Sou, desde criança, extremamente ciumenta. Antes sofria com ciúmes de meus pais, pela forma com que tratavam minha irmã mais nova (sempre com mais atenção e carinho), hoje sinto ciúmes de meu marido, porém não expresso, ele nem sabe que sou muito ciumenta, e não dá motivo, mas apenas por saber que ele admira outras mulheres sofro muito, me sinto um lixo e acho que ele irá me trair. Sou bonita, tenho um corpo em forma e um rosto delicado, ouço elogios de amigos e do meu marido. Apesar de ter consciência do meu valor, me sinto em constante retaguarda. Gostaria muito de tirar esse peso que carrego há anos.

Luciana: O que está em jogo é a sua necessidade de obter controle total sobre os seus objetos de amor. Tal possessividade extrema, misturada à necessidade de se sentir a filha ou a mulher mais importante do mundo, desejada o tempo todo, acarreta uma intensa sensação de insegurança e de medo – se não fosse tão exigente em relação ao amor dos outros para com você, não sentiria tanta desvantagem. Será possível sobreviver ao fato de que nem sempre estamos em primeiro lugar ou só a medalha de ouro importa para nosso narcisismo?

Saiba que no amor e na vida não há garantia de nada, tudo pode mudar. Os sentimentos se transformam e nenhum de nós permanece o mesmo, por muito tempo - constantemente deixamos de ser quem pensamos. Aspectos diferentes e desconhecidos de nossa personalidade surgem de forma descontrolada. Esse movimento pode ser assustador e costuma convocar a paranóia, alguns delírios de ciúmes e o terror de perder quem amamos.

Ficar na retaguarda parece ser uma defesa que te protege do temido. Adiantar, mesmo que na imaginação, os terrores, não evita que aconteçam, apenas antecipa um sofrimento estéril, repetitivo e irreal. E ainda faz com que perca a intensidade dos afetos possíveis, enfraqueça os vínculos e diminua o prazer.  

Ciúmes
Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma
tão distraidamente
(Ana Cristina César)

Os poemas acimas foram especialmente escolhidos por Ana Tanis, psicóloga e bacharel em letras (ou amante das palavras).

Dor de Cotovelo                                                                            

O ciúme dói nos cotovelos,
na raiz dos cabelos,
gela a sola dos pés.
Faz os músculos ficarem moles,
e o estômago vão e sem fome.
Dói da flor da pele ao pó do osso.
Rói do cóccix até o pescoço
Acende uma luz branca em seu umbigo,
Você ama o inimigo e se torna inimigo do amor.
O ciúme dói do leito à margem,
dói pra fora na paisagem,
arde ao sol do fim do dia.
Corre pelas veias na ramagem,
atravessa a voz e a melodia.

(Caetano Veloso)

Um comentário:

  1. Olá passando para retribuir a visitinha, e agradecer pelo recado. Parabéns pelo seu trabalho. Desde já serei teu seguidor.]

    Abraços!

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