sexta-feira, 23 de março de 2012

Crescer não dói, nem tem que doer...

 
Sempre segurei meus bebês no colo. Durante o dia, a noite, nas madrugadas. No colo. Coisa de afeto, emboladinho, grudado no corpo. Ouvi muitas vezes críticas ! Ouvi tantas vezes críticas ! Coisas como: seu bebê vai ficar mal acostumado, ihhh ! essa criança já está cheia de manha. Deixa chorar um pouco, senão fica sem vergonha ! Sempre repeti que mimo é excesso, colo é carinho -  Insisti no colo ...
As crianças não tem a malícia do mal costume, tão pouco criam manha se estiverem tranquilas e seguras.
Acredito que a segurança se faz no afeto, na proximidade. É necessário estar perto, firme , antes de ter repertório para ir sozinho. Notadamente, o apego promove a consciencia de si e do mundo. É a partir da experiencia com o adulto que a criança desenvolve as habilidades para experimentar sozinha. Habilidades não apenas sensoriais, mas também emocionais e sociais.
Vejo que passo a passo a criança acha-se...encontra-se e se percebe no controle de si.
Tal processo é único e por ser singular depende do ritmo de cada criança. Requer dos adultos presença, toque, paciencia e especialmente observação. Gradativamente a criança se apropria do contexto. Devemos estar atentos ao momento de estar perto e em que situações promover o desapego. De mansinho, de fininho, esperar que a criança olhe para trás e nos procure como quem diz : estou crescendo ! 
Dia desses o João me perguntou se já não estava na hora dele atravessar a rua sozinho. Fiquei apreensiva porque aqui em Cacoal atravessar algumas ruas requer perícia. Resolvi querer entender o significado disso para ele. O que ficou claro é que sentir-se responsável por si mesmo é um exercício que já o atrai. Fizemos alguns combinados e ele tem tido a chance de passar por essa experiencia. Devagar, de mansinho !
E, isso começou naquele colo...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Tchau Adriano !!!

Resolvi escrever por que minha porção masculina ama futebol e a feminina teima em torcer pelo Corinthians.
Corinthians do povo, dos maloqueiros que meu avô insistia em dizer, das minorias. Algumas pessoas dizem que Corinthiano gosta de sofrer, pelo esforço que se propõe, pelas finais de jogos, lamuriosas, pelos gols perdidos e pela fome de coletivo de sua torcida. Única.
Notadamente, quando Adriano chegou - Imperador, fiquei pensando na idéia de superação proposta pelo time. Teve crédito, teve chance, teve mimos e colo. Como quando a gente sente que tudo está perdido e encontra-se infinitamente só e um colo faz toda a diferença.
O colo dele veio travestido de milhares de torcedores , uma parafernália médica, enfim...foi um colão. Interessante observar que as vezes ter oportunidade não basta, é necessário estar pronto para ela. Nesse sentido, falo de tantas vezes que estendi a mão ou a recebi e vi se esvair a atitude pela falta de estabilidade emocional ou preparo. Costumo entender que subir a escada pulando de dois em dois degraus requer perícia, esforço físico, planejamento e essencialmente o desejo. Pulsão de vida é tudo !
O Imperador oscilava entre subir a escada, degrau a degrau e descer aquilo que ele já havia conquistado. Penso que todo apelido faz juz ao homem, a partir do contexto que vivencia. Imperador, imperativo, que manda nas próprias pulsões. Movido por aquilo que já tinha referencia não viu o colo, não cedeu a oportunidade e aos trinta anos voltou todos os degraus.
Estudando a Laura Gutman que considera que se o bebê ao padecer da falta de algo, crescerá reinvindicando eternamente aquilo que não obteve. Mesmo diante da situação real modificada, continua-se experenciando a sensação primária. Portanto, uma criança não amada pedirá amor em todos os lugares e se sentirá insatisfeita mesmo frente a  fortes manifestações de afeto.  
Hoje pela manhã num dos jornais da web estampa a chamada Adriano participa de noitada junto com Ronaldinho. Lembrando que ninguém pede o que não precisa, o que será que o Imperador está pedindo agora ?
Vejo, então, que as vezes nos sentimos frustrados ao estender uma mão ou ao ajudar alguém. Devemos estar atentos que a ação só terá consequencias interessantes, se o outro de fato abraçar a mão e a transformar em oportunidade. Nesse sentido, não temos como garantir o que o outro transforma.  Por isso, tchau Adriano !

segunda-feira, 12 de março de 2012

NOSSA, NOSSA, QUE DIFICIL...

Eu e o João fomos ao supermercado. Hoje irmos ao supermercado é um evento. Carregamos, bolsa, Maria, a sacola para os produtos que vamos trazer, a chave do carro e nós mesmos. Então, é um evento !
Quando terminamos de fazer a compra, João prontamente foi ao caixa especial. Aquele da plaquinha : mulheres e crianças primeiro ! Infelizmente a fila era tão grande quanto as outras e ignorando a placa haviam ali toda sorte de pessoas independente da condição. Não havia ninguém com um bebê. Não havia nenhum idoso...enfim, era salve-se quem puder, literalmente !
Ele caminhou aos caixas seguintes (e eu na minha lerdeza, o segui) ao encontrar um caixa mais vazio guardou lugar para nós. Uma senhora pediu licença a ele. Ele deu ! Ela entrou na sua frente com dois carrinhos...rs... ele surpreso, apenas conseguiu me pedir -Ligeiro mãe ! Trás as nossas compras...Ninguém viu apenas nós dois.  O que quero dizer é que a senhora passou na frente dele, desprezou a idéia de que ele guardava um lugar para a mãe e ignorou o fato de que apesar de criança ele é capaz de discernir entre o certo e o errado.
Quando me aproximei com a Maria e o carrinho ela já havia iniciado o trânsito de suas compras para o balcão. João me olhou triste com um jeito que só ele sabe fazer diante dos impasses e me disse com a altura de sua idade: Sabe mãe por que o mundo não muda ? Por que as pessoas apesar de saberem o que é certo continuam furando filas...
Confesso que por muitas vezes fico decepcionada com as pessoas. Falamos tanto em educar nossos filhos para a construção de um mundo melhor, mas temos nos ocupado em educar nossos filhos para que se defendam do mundo atual.
Nós dois não conseguimos entender qual a vantagem que ela teve em furar a fila, adiantou-se 10 minutos ? Ganhar 10 minutos fez a diferença na vida dela ou na de alguém ?? Mas construiu em nós um vácuo entre aquilo que acreditamos ser o certo e o que vivenciamos com frequencia no dia a dia. meu discurso não é derreista, mas ilustra que por vezes temo não conseguir nadar contra a maré. O meu alento foi perceber que João inconformado contou a todos os amigos que pôde a mesma história, descreveu milhares de vezes a sua atitude  e a da senhora e me fez ver que ele acredita no que é certo . Confesso isso me encheu de esperança para continuar dizendo que devemos ter respeito ao coletivo e que no exercício da vivencia em grupo um olhar, um gesto, uma mudança de atitude pode fazer toda diferença.

     

Costurando... o exercício do feminino...

Nem sempre ouvir o feminino vem distante da composição da dor, dos mecanismos de defesa, da idéia de incompletude. Onde foi que disseram à mulher que ser feminina poderia corroer seus sonhos , ideais ou subestimar sua inteligencia ? Ser feminina não agride sua autonomia. Ser mulher não interfere nas vicissitudes de ser aceita ou respeitada socialmente.
Tenho visto que ao destituir o feminino, a mulher não cabe no corpo, abre espaço para a dor, para o distaciamento da sua forma. Ao negar a essencia, o que é do feminino se suprime, se encolhe, adoece. Abre espaço para o não ser e a crise de identidade travestida de depressão passa a ser a tonica para a própria vida.
A dor da anestesia e da anulação se traduzem no corpo. Mulheres cada vez mais tem entregue o próprio corpo à armadura consumindo seu desejo, disfarçando sua essencia, destituindo o sutil, o doce, as sensações e sentimentos, o único, a intuição... sem se ouvir, passam a não ter eco diante de si mesmas. A imagem no espelho é distante da imagem real.As fronteiras para isso vem disfarçadas de que ao longo da vida sempre se teve outros objetivos, ou então, de que não havia tempo para ser mulher.
Entender que ser mulher não está na submissão é essencial para desbastar a armadura. Escolher, desejar, sem precisar lançar mão do exercício de controle dá condições para que o sujeito psiquico se aceite, se acolha.
Onde foi que disseram que era uma coisa ou outra ?

   

domingo, 11 de março de 2012

Rapidinhas... entre um mamá e outro...O filho da psicóloga !

João mais uma vez me surpreendeu... entrou no carro e disse com ares de gente grande: Meu amigo tem um problema grave mãe ! Ele tem dor de barriga todo dia depois do recreio, na mesma hora todo dia. Pensei que a barriga dele era quase um relógio. Eu vi que no recreio ele fica bem sozinho e ai a barriga dói mesmo. E, cheguei a conclusão que a barriga dele dói de saudade da escola antiga. Pena que a mãe dele vem buscar e , assim a barriga dele vai continuar doendo. Disse isso sem fazer vírgula nem respirar !!! Vi que o filho da psicóloga contaminado pelo olhar de dentro incomodou-se com a dor do outro e com o não fazer dos outros em relação a essa dor. Enfim... nada pude fazer a não ser deixar claro que a dor do outro é do outro e que talvez a única coisa que possamos fazer é segurar na mão dele até a dor passar.
Hoje, domingo, ele veio me dizer que vai segurar na mão do amigo...perguntei qual seria a estratégia dele...rs...
Vai sentar do lado dele na hora do intervalo e quem sabe conversar...