sábado, 7 de maio de 2011

Soneca da tarde...

Deitei no sofá da sala como há muito não fazia. Reuni as mulheres da minha familia e comecei a desenhar nossa conversa. Algumas falam de um amor in-tenso, da dificuldade de se entregar. Outras do policiamento diante do sentir. Mulher que sente muito, fica mole... essa idéia de ser que não pode ser frágil, explica muito os mecanismos que muitas de nós criou: ser independente, ter autonomia e resolver.
Mulher resolvida e posicionada foi minha avó que tinha sua casa como o porto seguro dos filhos, dos amigos dos filhos e que engrossava a sopa com a xepa da feira.  Eu ria com ela quando contava as pessoas que iam sentar ao redor da mesa, sempre havia um prato a mais ou dois dependendo do dia da semana. Ela trazia no coração a percepção aguçada das feras que defendem suas crias. Rompia conceitos quando os médicos diziam que ela não podia querer outros bebês. Para quem não podia, teve 08, vingaram 05.  Alguns nasceram na sala de casa, outros no próprio quarto, na cama em que também dormiram seus netos e bisnetos. Era menina que pintava as unhas de rosa mas, mulher que acreditava na força das palavras, no poder de cura do próprio desejo. Plantou em mim a crença no desejo, a essencia da intuição.
Quando  sentou ao meu lado minha outra avó, órfã, criada por pessoas distantes da propria família abrigava no peito o desejo de ser feliz, tinha histórias inventadas na ponta da lingua. Uma conversa mineira de quem queria provar a verdade. Apesar do pouco conhecimento esbanjava sabedoria nas análises em relação as pessoas. Enquanto descascava laranjas , sentada na mesa da cozinha palavreava idéias, propunha sonhos e acreditava que família grande é o maior empreendimento da vida. Observadora, miúda, via nos olhos dos outros respostas que muitas vezes não eram ouvidas , nem compreendidas. Plantou em mim  a vontade de compreender o outro, de olhar por dentro. Coisa que ela sempre dizia - conhecer por fora é experiencia fácil, por dentro é uma vida inteira.  
Quando as bisas vieram, vi diante de mim a pausa, o silencio de quem conduzia a vida mesmo na adversidade. Com muitos filhos davam aos homens a condição necessária ao trabalho e às mulheres o poder de ação de quem teria que administrar uma familia. Sabiam fazer do restinho do almoço um belo jantar. Mulheres de opinião formada que com sutileza conquistavam seu espaço. Tenho treinado as pausas... 
Quando minha mãe chegou, rompeu cedo os limites da própria familia, viu no estudo a possibilidade de crescer. Menina bonita, tinha mais medo do pai no final da rua, do que do escuro que tinha que atravessar na volta da escola. Afeto sempre foi seu motor, nos gestos simples, no contato carinhoso, na mania de amar a vida. Nunca a ouvi reclamar, me lembro sempre da sua vontade de superar. Trouxe para casa a primeira geladeira e ao dirigir seu Fusca Azul, levava as salas de aula como alguém que desbravava o mundo.  Tem a fé como sua mola propulsora, traz no corpo a responsabilidade de acertar. Não teve chances de rascunhos e redefinições.   No original construiu sua força ! O peso da sua exigência a torna atenta, detalhista, segura.  Plantou em mim o afeto, a vontade de seguir sempre. Me fez segura frente aos desafios.
Tocar nessas mulheres, encontrar com elas me deu a chance de construir uma referencia de feminino. Um dia quem sabe sentemos na mesma mesa para perceber as conquistas e desafios vividos por cada uma de nós para perceber o legado construido na essencia do feminino.   Me fiz menina, me tornei mulher, mãe ...

2 comentários:

  1. Você postou um rico texto, cheio de memórias e, principalmente, dos fundamentos de sua personalidade.
    Parabéns!

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  2. Lindo texto.
    Ame!
    Sabe é tão bom lembrar coisas que marcam nossa vida. São elas que às vezes nos impulsiona.
    Também gosto de relembrar quando aos meus anos de jovem adolescentes conversava com minha mãe tenho muito saudades dela.
    Beijos.

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