sábado, 12 de maio de 2012

Nossa estréia no semáforo !

João já usa o banco da frente e como um absoluto navegador, me dá as coordenadas das ruas , dos buracos, das bicicletas e motos que insistem em trafegar desorientadas. Transito é algo que configura a identidade do coletivo. Viabiliza regras e nos permite dividir com o outro um espaço comum. Tão interressante analisar o quanto uma mudança de placa altera o passeio, modifica o trajeto e cria outras possibilidades de paisagem.
Quando cheguei a Cacoal há alguns anos atrás sofri para compreender as mãos das ruas, haviam poucas placas de sinalização. Cheguei a me questionar quando percebia que as pessoas faziam uso do espaço público com uma autonomia que gerava o autogoverno (rs...). Muitas vezes me deparava com as pessoas -carro que transitam pela via sem sinalização, ou melhor, sem que se possa desviar delas a tempo de não pensar no objetivo de andarem pelo meio da rua. Cacoal, sempre teve um movimento de baixa velocidade o que permitia que as pessoas conduzissem o transito a seu bel prazer. Aos poucos o impacto das faixas de pedestre foram dando lugar a uma série de mudanças de comportamento, do bom ao ruim: vi gente brigando para atravessar a rua com motoqueiros velozes fingindo não perceber a indicação; vi crianças desistindo de atravessar na faixa, pois os pais os esperam distantes delas; vi gente sendo atropelada em vias onde um único carro parou na faixa.
Com o passar dos dias foram sendo erguidos como monumentos ao progresso os semáforos...enormes, altivos, cheios de pompa e informações.
Desligados, calados, foram dando ar de dúvida a quem insistia em parar entre dois cruzamentos devido as novas faixas de pedestre.
Desligados, calados foram motivo de perturbação quando motoristas reduziam a velocidade e geravam instabilidade no fluxo, tudo isso , para decifrar todas as informações que o compõe. 
Desligados, calados com a retirada das faixas de pedestres em frente a escola e na ausencia da placa de PARE, foram motivo de aumento da velocidade, o que provocou ansiedade nas crianças que já haviam se habituado a atravessar na faixa. Detalhe: vários condutores de veiculos paravam diante da escola mesmo na ausencia da faixa. Vários, mas não todos oq ue gerava ainda mais ansiedade. Enfim... Hoje eles foram ligados. São lindos. Meu marido diria que tenho essa mania feminina de ver beleza nas coisas ... rs.  Eu e João ansiosos por ver as luzes que compõe esse novo cenário - indicativo de progresso - fomos ao centro da cidade. 
Experimentamos todos. Parecem infinitos esses três meninos. Ancoras de uma cidade em crescimento. Mas restam apontamentos de quem prevê a incerteza. O exercício do semáforo vai além de pé na embreagem, envolve o compromisso com o outro. Torna viva a idéia de respeito ao coletivo e nos faz experenciar intensamente a relação de grupo. Será que estamos preparados para tanto ?
Na dúvida tenho pensado em soluções práticas de como buscar o João na escola já que as pessoas tem aumentado a velocidade na rua da escola logo após o semáforo e, ainda frente a sinalização indicada não há como estacionar veiculos. 
João pensando me sugeriu : De duas uma mãe ou você me iça direto da sala de aula ou minha escola logo, logo, vai ter heliporto (?). João é realmente dado ao progresso e na altura dos nove anos tem soluções rápidas...rs...         


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