quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Coisices de mãe II

Engraçado como a maternidade nos traz para o redor do fogo. Envoltas na fogueira nos colocamos a falar e ouvir. Nenhuma das mulheres que esteve aqui para nos ver deixou de contar uma história, fosse sua ou de sua mãe, ou avó sobre seja lá qual for o assunto ao redor de gestar, parir , nutrir e amar. Foram tantos medos colocados no ar, tantas circusntancias jogadas ao fogo, tanto sentimento posto para dividir. Fiquei encantada com a magia que o leite da nutriz promove, solta a trava de quem muitas vezes mata o desejo ou se consome diante da vida ou se impede de viver intensamente essa relação.
Vi com os meus olhos de dentro a proeza que é se estabelecer mãe, no sentido pleno do termo, entregar-se a esse momento e deixar que o corpo -emoção faça seu juizo. Nesse sentido, amamentar torna-se um ponto interessante.
Minha história com o João foi como daquelas da propaganda, assim que ele nasceu, como se já tivesse feito isso por dias a fio, entregou-se ao meu peito. Fez dele sua conexão com a vida e aquilo que era apenas afeto (por que o leite de todo mundo desce lento, devagar...mas desce), tornou-se em horas sua fonte de alimentação. Sabia sem romancear que aquela dor seria aos poucos substituida pelos gracejos dele e por essa intimidade fantastica que se constroi a cada mamada. Assim que ele nasceu recebemos a visita da psicologa do banco de Leite (!) que nos explicou muitas coisas, deu dicas e colocou João para sorver do colostro sem demora, sem medo, sem receio ! E, ele mamou por dois anos e três meses. Quando viemos para Rondonia, confesso que ele mamou os três dias de viagem, como que sem entender , aquela distancia...
Com a Maria, a fórmula estava estabelecida e repetir é sempre uma tendencia maior do que se diferenciar...rs... Quando a Maria nasceu ficamos sem o elo no primeiro momento. Assim que eu pude estar com ela e ela comigo, estabelecemos o nosso momento... aos poucos ela descobriu o peito. Bem diferente da propaganda, cheia de dedos, com uma certa marra. Lentamente ela se achegou ao que era dela, mas que não havia percebido, nem sentido. Nesse aos poucos, o medo me consumiu ! O leite assustado com alguém que sempre é tão forte se demorou. Ficamos nós duas tomadas pela angustia e pela incerteza. Ouvi de tudo: que menina é mais lenta (!); que cesarea é para leite de lata (!); que meu susto no nascimento impediu meu leite de descer e eu devia desistir  (!).
Enfim, iniciei o processo que chamo de profecia autorealizadora, me coloquei certeira de que todo mundo tem leite e que meu peito seria fonte de alimentação da Maria. Liguei para amigas pedi dicas sobre a conservação do leite, fiz ordenha, estimulei. Procurei um banco de leite (o mais próximo, fica a quase 500 Kilometros), psicóloga do banco de leite (cade vc ???) também não encontrei, mas mesmo assim, nós duas tinhamos a certeza de que esse caminho dependia da nossa escolha e que teríamos que no mínimo tentar. Assim fizemos e nessa entrega percebi na pele: que o estímulo depende do estado emocional, que a ansiedade da mãe precisa ser trabalhada para que o processo ocorra,   que as pessoas raramente estimulam a amamentação sem citar exemplos negativos e, especialmente, que pessoas afetivas e que creem nesse processo são essenciais para que tudo caminhe bem !
Maria perseverou, entregou-se ao peito e hoje o que era apenas de afeto tornou-se sua única fonte de alimentação. O que me motivou a escrever sobre esse processo tão único e ao mesmo tempo diverso, afinal, sou a mesma,  é que muitas vezes as pessoas não creem no aspecto emocional como determinante para o desenvolvimento do controle em relação a nosso próprio corpo. O exercício que Maria me permitiu, me fez mais uma vez constatar isso ! Nossas emoções são os disparadores, o gatilho para a vivencia de nossos desejos.            

Um comentário:

  1. Puxa, eu também tentei, mas como vc disse em seu texto, meu estado emocional estava um caco e minha Maryah só mamou quatro meses... Me senti uma mãe desnaturada!!! Muito culpada!!! Apesar de não ter culpa nenhuma... Há se eu tivesse te conhecido antes!!!!

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