Dia desses, na rua, brinquei com um bebê que vestia azul, mas é menina ! Com a Du no colo, quase do mesmo tamanho, eu disse olha só uma amiga, como você. Confesso que me referia ao tamanho. A mãe interlocutora das dúvidas que competem a toda mãe já desfiou aquilo que sabemos, mas nem sempre temos com quem conversar.É interessante como descobrimos pessoas, que na solidão dos seus momentos, permitem-se falar ... e confesso, que bom que existe gente a ouvir !
A mãe que comigo falava, angustiada, disse que havia coberto sua menina por estar de azul: havia sido confundida por menino diversas vezes naquela manhã. Nesse sexismo ardente que vivemos, somos definidos imediatamente pelos estereótipos calcados em escolhas alheias as nossas.
A ausencia de brincos sempre denota o sexo masculino...rs... principalmente, quando se é um bebê de quase 60 centímetros. Procuro ver bebês como bebês: na etapa em que se encontram, descobrindo o mundo, os próprios limites do corpo e o controle do próprio olhar. Por acreditar que o feminino se instaura nas posturas, gestos, no sorriso, no encantamento que se promove no sujeito. E, isso, notadamente ocorre aos poucos: no contato com o feminino, na descoberta das medidas que o compõe, na visualização da própria essencia. Até se ver menina ou menino o sujeito percorre um longo caminho, que nada tem a ver com as pedrinhas na orelha, nem com a cor da roupa que vestem. Eu confesso que sabedora da minha história com brincos, preferi deixar que Maria escolhesse quando quiser preencher esse ritual de feminino, caso contrário, teria que aceitar como minha mãe que ela comesse os brincos. Eu comi um dos meus ! Eram vermelhos, pequenos, interessantes para alguém que estava descobrindo o mundo através das mãos ao sabor da boca. Enfim, comi ! Eu estava alheia a qualquer idéia do que ele significava, de quem era antes de ocupar minhas orelhas, tampouco que havia sido ali colocado na primeira hora do meu nascimento. Meus pais estavam fazendo aquilo, que naquele momento parecia o melhor e mais adequado. E, talvez fosse o mais tranquilo, afinal, não teriam que responder as constantes falas: É menino ou uma menina ??? Nossa, tem cara de menina ou cara de menino ! Mas está de azul e me confundi.
Prefiro esperar que a Maria escolha em que momento os brincos terão significado de presença no mundo feminino, enquanto isso, sigo mostrando para ela o mundo, as coisas e as pessoas, com carinho e afeto. Acredito que nesse momento isso é o mais importante !
Nota 10 para Duda!
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