terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os venenos...

Nas relações tenho visto que alguns venenos são servidos em taças de cristal outros em copos de requeijão, mas são venenos, intensos, áridos e devastadores.
Doem no peito e corroem o gozo de estar em grupo, de viver a coletividade e de estabelecer o íntimo. Muita gente mantem o superficial afim de não ingeri-los, matam a oportunidade de se entregarem.
Nessas minhas andanças no mundo de dentro vejo que a inconstância e a instabilidade promovem a baixa auto estima e infinitamente um desdem em relação a si mesmo. É difícil se posicionar diante dos próprios sentimentos, esclarecer o que sente e como sente. Deixar claras as imperfeições, mas se entregar. Nessa ausencia de inteiro, cria-se a impossibilidade , o desajuste, o morno - instável. Veneno, na certa , que implica na relação só te dou se você me mostrar. Na barganha , não se ama; na troca, não se entrega.
Além disso, a dificuldade de romper com os códigos que criamos em relação ao outro. Por que será que diante do não dito temos a mania de tentar adivinhar ? O que significa aquele olhar, o atraso, ou a distancia daquele abraço. Traduzir o sentimento do outro não necessariamente é ter uma resposta certeira. Tomar-se como parametro é apenas uma das possibilidades de encarar esta ou aquela situação. Vale dizer que nem sempre nossos códigos fazem parte dos significantes impressos no dicionario de afetos do outro. Venneno que corroe e estimula o não dizer, o silencio dos gestos mecanicos, a falta de espontaneidade. O medo.
Não beber veneno, pode inicialmente significar o risco de saltar e não ter certeza de que o paraquedas vai abrir. Não tomar veneno é lidar com o desconhecido.É tatear as múltiplas possibilidades de se entregar. Fica a dúvida :

É viver, mais inteiro ???
    

sábado, 17 de setembro de 2011

A Doçura de Aprender com Você ...

Após um jantar de adultos onde haviam muitas meninas e ele, o único, menino, entre elas, conversamos. Durante o banho, (necessário, pois passou boa parte do jantar sem tenis, com a peruca molhada de suor, exausto) resolve pensar  alto, falar sem parar sobre suas idéias a respeito das meninas...

1- As meninas são mesmo um tipo de gente (sic) bem esquisito: quando todas falavam ao mesmo tempo eu pedia calma, elas pareciam nervosas. Parecem bem competitivas, elas queriam que eu olhasse para elas todas de uma vez. E, eu mãe, só conseguia pensar como  queria brincar de policia e ladrão. 

2 - Quando vi que nenhuma delas ia aceitar a idéia da outra aproveitei e propus a brincadeira de polícia e ladrão. Elas toparam na hora. Fiquei tão feliz ! Mas, mãe, eu só fui ladrão, elas não me deixaram ser polícia (todas me diziam que eu sou mais forte- não entendi muito isso !) me escondi no banheiro, por que não era justo, elas eram muitas...

3 - Achei estranho por que eu ia desistir de brincar duas vezes, mas elas faziam uma cara de triste, de dar dó mãe, tive que ficar !

4 - Quando perguntei para ele se achava que tinha sido bom o jantar, rapidinho me respondeu: foi bom ! (ele não comeu nada), mas menina é bem difícil de entender !

João na altura de seus 08 anos constatou que precisa aprender a compreender as mulheres,  ...que pode ser bem interessante conviver com uma , mas muitas ao mesmo tempo denota competição e, em algumas circunstancias fragilidade.  
Fui dormir pensando que é melhor que ele exercite isso agora e não espere estar adulto para identificar as diferenças, perceber as relações com o mundo e aprender infinitamente os códigos do masculino e do feminino.
Enquanto alguns pais temem a convivencia entre os generos, sob a absurda idéia de que isso pode afetar a escolha da sexualidade acredito que lidar com gente e descobrir seus códigos pode ser a oportunidade de dirimir os desencontros nas relações, as dores da incompreensão e a solidão.
João em suas experiências de menino tem me tornado mais pensante do que de costume !  

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Coisas do Cotidiano...A invasão !

Fico pensando nessas coisas de gente. Minha mãe sempre dizia que de pensar caspa virava Mandiopan. Mas não me canso de tentar entender fatos que apesar de parecerem simples compõem o contexto e sinalizam emoções, sentimentos, valores e muitas vezes atitudes.
Hoje conheci um homem, ou melhor , ele me conheceu primeiro. Fato é que na altura do terceiro xixi da manhã olhei ao longe, vi a janela e um pincel, por trás deles, um rosto. Diferencial é que ele estava ali desde o principio. Viu... meu corpo. Num momento que divido com poucos, raros. Fazer xixi diante de alguém é tão íntimo, prova de amizade quando chamamos alguém para nos acompanhar ao banheiro para continuar o assunto. Prova de confiança quando não precisamos abrir a torneira para iniciar o processo. Tímidos, muitas vezes, se reservam o direito de fazer apenas um pouquinho para evitar que alguém ouça. Enfim, esse homem, que nem sei o nome, me viu.
Eu deveria tê-lo comunicado que uso meu banheiro sempre pela manhã ??? Deveria tê-lo avisado que entre um paciente e outro me furto a beber água e a vertê-la ??? Por escrito ou simplesmente um acordo verbal ???
Após me recompor (pensei tudo isso terminando de baixar o vestido) me permiti ir até lá admirar esse homem que me conhecia, sem que eu pudesse saber quem era ele. Chocada o encontrei na escada amparado na janela, na altura dos seus aparentes 40 anos, mergulhado na tinta, em suas crenças , sem entender aquela que debaixo da escada perguntava preocupada como faria o próximo xixi se ele fosse se demorar mais do que 45 minutos com o pincel.
Tudo isso me fez pensar em que momento de nossas vidas descobrimos a idéia de coletivo. Quando é que percebemos os limites e aprendemos a respeitar os espaços ocupados pelo outro. Essencialmente muitos tem se distraido com o que chamamos de avanço e perdido a possibilidade de estabelecer relações entre o eu e o outro. Saudáveis, sadias, únicas. Sem ser piegas pedir licença, dar setas, sinalizar nossa presença , identificar as reações do outro e estabelecer limites tem se tornado excesso. Será que educação caiu de moda como muitos acentos na Língua Portuguesa ??